terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Empresas reforçam estrutura de redes para posse de Obama

O setor de telefonia móvel tem um apelo às multidões que estão chegando à capital dos Estados Unidos para a posse do presidente: economizem no uso de seus celulares. As maiores operadoras de telefonia móvel, temerosas de que os cidadãos comunicativos sobrecarreguem suas redes, tomaram a incomum providência de pedir que as pessoas limitem seu uso de celulares e que aguardem para enviar fotos posteriormente.

As operadoras também estão investindo milhões de dólares para elevar a capacidade de suas redes em Washington, temporária mas substancialmente. Queda de ligações, fotos perdidas ou mensagens de texto que demorem a chegar são sempre um risco em eventos esportivos e shows. As pessoas muitas vezes se sentem compelidas a compartilhar esses acontecimentos com amigos, e isso consome muita banda.

As câmeras dos celulares estão tirando fotos melhores o tempo todo, e o envio rápido dessas imagens de alta resolução ocupa as redes. Os partidários de Obama ¿ mais de dois milhões dos quais podem estar presentes em Washington durante a posse - tendem a ser jovens, ou seja, parte do grupo mais acostumado a manter contato pelo envio de fotos, pela atualização de blogs e por posts no Twitter.

Muitas organizações noticiosas, entre as quais o New York Times, estão pedindo que pessoas encaminhem fotos dos eventos da posse por e-mail, para possível veiculação.

Para as pessoas que vieram prestar homenagem ao novo presidente, um usuário intensivo do BlackBerry, a posse tem o potencial de se transformar em uma espécie de Woodstock da comunicação sem fio. Ao menos se as redes suportarem o volume de tráfego.

"Se algumas dessas estimativas se confirmarem, as pessoas devem antecipar atrasos com relação ao envio de mensagens de texto, telefonemas ou acesso à internet", disse Joe Farren, porta-voz da Cellular Telecommunications and Internet Association, uma associação setorial. A organização pediu que as pessoas enviem mensagens de texto em lugar de fazerem telefonemas (mensagens de textos requerem menos banda que comunicação de voz) e que aguardem para enviar fotos apenas depois dos eventos.

"Há um limite para a manipulação das leis da Física", disse Farren.

Para limitar os problemas, as operadoras de telefonia móvel estão acrescentando rádios às suas torres de celulares, para receber mais sinais, e também estão acrescentando linhas fixas de transmissão para conduzir esses sinais a centrais de rede. Elas estão reforçando as redes com caminhões de transmissão cujo custo chega a centenas de milhares de dólares; alguns deles contam com geradores autônomos para casos de falta de energia.

Mas alguns consumidores e organizações de defesa do consumidor dizem que o setor não deveria estar se elogiando pelos esforços realizados e sim pedindo desculpas por cobrar dos consumidores por um serviço que elas nem sempre são capazes de prestar.

Gene Kimmelman, vice-presidente de assuntos internacionais da União de Defesa do Consumidor, uma organização sem fins lucrativos que publica a revista Consumer Reports, informou que os usuários da região de Washington podem não receber sinais continuamente mas que invariavelmente recebem suas contas no final do mês.

"É como pagar por um jantar em bufê e descobrir que só ficaram algumas sobras nas bandejas", disse Kimmelman. Ele sugeriu outra maneira de as operadoras usarem seus milhões de dólares. "Talvez elas devam fazer uma restituição de pagamentos caso seus serviços sejam reduzidos no dia da posse".

Segundo ele, a situação na posse "é indicativa de um problema comum: o fato de que os consumidores pagam por serviço de uma qualidade que nem sempre lhes é fornecida". O serviço de telefonia móvel, embora apresente momentos de insuficiência, certamente melhorou nos últimos anos.

Os desafios são muitos nos eventos maiores, que resultam em demanda superior à que as redes foram planejadas para processar e transmitir. Mas muitos eventos como esses têm platéias de tamanho previsível, o que permite que as operadoras reforcem sua capacidade de acordo com as necessidades específicas.

"Sabemos qual é a lotação de um hipódromo ou de um local para shows", disse John Johnson, porta-voz da Verizon Wireless. Dadas as multidões entusiásticas que Barack Obama atraiu ao longo da campanha eleitoral, é difícil para a operadora prever facilmente o volume de público que pode haver na terça-feira. "É uma situação sem precedentes".

A Sprint Nextel, que informa estar se preparando para a posse desde abril, também ampliou a capacidade de suas linhas de celulares e linhas de transmissão terrestres, a fim de preparar sua rede para sustentar de 10 a 15 vezes o número de usuários a que atende em um dia normal.

A companhia está ampliando a cobertura não só na cidade mas também ao longo da rota que conduzirá as famílias Obama e Biden de Filadélfia a Washington em uma viagem de trem com paradas para discursos.

A AT&T Mobility informou que havia investido US$ 4 milhões para reforçar suas redes. A empresa informou que, ao longo da rota da parada, estava ampliando a capacidade de sua rede 3G em 80%; a rede 2G está sendo reforçada em 69%, e o número de funcionários em plantão será ampliado em 60%. A cobertura também foi ampliada em 11 grandes hotéis, e ela conta com dois caminhões para transmissões móveis e mais dois em reserva.

James Katz, diretor do Centro de Estudos da Comunicação Móvel na Universidade Rutgers, disse que os pedidos das operadoras para que as pessoas se comuniquem de maneira judiciosa contrariam a natureza humana "de duas formas".

"Uma é pedir que as pessoas adiem sua gratificação instantânea", disse, e a segunda é a frustração que as pessoas que atenderem ao pedido podem vir a sentir caso virem que outros estão enviando fotos ou fazendo telefonemas.

"Trata-se de uma grande oportunidade para que as operadoras de telefonia móvel se provem confiáveis mantendo o serviço", afirmou.